HORA DA VISITA: É arriscado beijar bebês recém-nascidos?
10 de janeiro de 2019 1064 Visualizações

HORA DA VISITA: É arriscado beijar bebês recém-nascidos?

Veja que cuidados tomar na hora da visita

Em post no Facebook, mãe cujo filho pegou herpes após ser beijado por visita fez um pedido: não beijem bebês dos outros. Especialistas explicam que precauções adotar.

“Parem de querer beijar bebê que não é seu” — este é o pedido de Rafaela Moreira feito em um post no Facebook da última sexta-feira (4). Ela afirma que o filho, Gustavo, foi infectado com herpes aos 17 dias de vida — por causa do beijo de uma visita, segundo declarações feitas ao jornal “Extra”. A publicação viralizou, com mais de 185 mil compartilhamentos e 25 mil “likes”.

Rafaela contou ao jornal que, um dia antes de aparecerem as bolhas no rosto do neném, ele chorava muito, e ela chegou a achar que poderiam ser cólicas. Quando viu as marcas, levou um susto. “O rosto dele estava todo infeccionado, aí eu o levei de imediato ao hospital, onde a médica contou que o herpes foi contraído pelo beijo. Ela recomendou que nessa fase a gente tem que evitar visitas”, relatou.

O vírus causa o herpes — que por sinal afeta mais de 4 bilhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) — é tão perigoso em bebês. Também listamos algumas dicas de cuidados que devem ser adotados na hora de visitar quem acabou de chegar ao mundo.

Kléber Luz, infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explica que o herpes, bastante comum em adultos, traz risco para recém-nascidos porque o sistema imunológico deles ainda é muito frágil.

“O recém-nascido tem as defesas muito baixas. O herpes, no recém-nascido, tem uma característica: invade o sistema nervoso e produz encefalite [inflamação no cérebro]. Por isso que, mesmo vendo só as bolhinhas no rosto, é um indicativo de lesão cerebral. É grave”, explica Luz.

Existem dois tipos de vírus que causam o herpes: o tipo 1 e o tipo 2. A infecção pelo 1 é a responsável pela maioria dos casos de herpes oral — que causa feridas na boca que parecem aquelas acarretadas pelo frio. Já o tipo 2 é o que dá origem à maioria dos casos de herpes genital. Segundo a OMS, cerca de 3,7 bilhões de pessoas no mundo abaixo dos 50 anos têm o tipo 1 do vírus, e 417 milhões, o tipo 2.

Contágio

“A transmissão é feita pelo contato — principalmente íntimo, como um beijo — da pessoa infectada com a que nunca teve herpes”, explica Kléber Luz. Ele lembra que, mesmo que as feridas não estejam aparentes, a pessoa pode ser contaminada. O maior risco, no entanto, é quando as feridas — chamadas de úlceras ou bolhas — estão aparentes.

A doença, seja em sua variação oral ou genital, não tem cura, mas pode ser tratada com antivirais, que ajudam a reduzir a severidade e a frequência dos sintomas. Fatores como exposição ao sol e estresse podem desencadear as feridas.

Como proteger os bebês?

É importante lavar as mãos e estar com roupa limpa para chegar perto do bebê — Foto: Unsplash

É importante lavar as mãos e estar com roupa limpa para chegar perto do bebê — Foto: Unsplash

Kléber explica que, devido ao fato de a maioria das pessoas já ter sido infectada por herpes — mesmo que não apresente sintomas —, a maior probabilidade é de que a criança pegue a doença da própria mãe, por meio do contato com o canal vaginal durante o parto normal. Segundo a OMS, isso acontece com cerca de 10 a cada 100 mil nascidos em todo o mundo.

Mas a doença também pode ser transmitida se a pessoa infectada beijar o bebê — como Rafaela relata ter sido o caso do filho. Por isso, é importante adotar alguns cuidados na hora de visitar a criança.

Em primeiro lugar, espere um tempo

O ideal é não visitar a criança assim que ela nascer — espere pelo menos um ou dois meses, inclusive para dar chance à mãe de se recuperar do parto.

“Recém-nascido não é pra ser visitado, é pra ser cuidado. Uma mãe, uma tia, uma avó, encerra aí. Hoje em dia é uma caravana pra visitar — e pega, beija, abraça”, recomenda Luz.

“A criança é muito frágil, o sistema imunológico está debilitado. Quem tem que ter contato é a mãe. Ficar em silêncio. Deixa a criança fazer um mês, dois meses, que aí pelo menos já tomou as primeiras vacinas.”

Evite segurar a criança

“Ninguém tem que pegar o bebê no colo. Ele tem que ficar na dele, quietinho, longe de todo mundo. Só quem pega é a família íntima. Tocar na mão do bebê, por exemplo, é a mesma coisa que dar um beijo na boca dele, porque ele coloca muito a mão na boca. E, se estiver doente, não vá visitar”, diz a pediatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Ana Escobar.

Se for pegar, lave as mãos e evite beijar o neném

“Todo bebê é um imunodeprimido — as defesas são baixíssimas”, explica Ana. Por isso tem que ser tudo esterilizado, para não contaminar. Não existe pegar num recém-nascido sem lavar as mãos e ter passado álcool em gel. Beijar bebê não se deve — só gente muito próxima, mas mesmo assim só com certeza absoluta de que não está doente. Pode pegar com roupa limpa, tendo lavado a mão”, diz a pediatra.

E, por fim, cuidado ao levar crianças junto

“Deixe as crianças longe. Os pais têm que ter bom senso — criança gripada, resfriada, não deve visitar, nem chegar perto ou respirar perto do bebê”, orienta a médica.

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