SAÚDE: Segundo pesquisas cigarro contrabandeado é ainda mais prejudicial
Foram descobertos restos de insetos, fungos e concentração de metais tóxicos até 11 vezes maior
Não bastasse o impacto financeiro provocado pelo contrabando de cigarros, outra questão grave é relativa à saúde. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Estadual de Ponta Grossa desvendou o que está por trás do cigarro contrabandeado.
Pesquisadores encontraram restos de insetos, plástico, colônia de fungos e ácaros, além de concentração até 11 vezes maior de metais muito tóxicos, como chumbo, crômio, níquel e cádmio, em comparação aos cigarros legais. “A pesquisa mostrou que os cigarros contrabandeados fazem mais mal à saúde que os legalizados”, afirma o coordenador da pesquisa, docente Sandro Xavier de Campos. O estudo foi produzido pelos alunos Cleber Pinto da Silva e Cinthia Heloise Domingues.
O presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, Edson Vismona, acrescenta que não há um controle da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre esses produtos. “Então a população tem que conscientizar e não consumir.”
Efeitos
Pesquisas relacionaram o aumento nos níveis de chumbo no organismo com redução no QI (quociente de inteligência) e recentemente associaram o chumbo presente no tabaco ao mau desenvolvimento de fetos.
A intoxicação pelo crômio pode gerar dificuldades na respiração, tosse, formação de úlceras, perfuração do septo nasal, bronquite crônica, diminuição da função dos pulmões e pneumonia.
Sobre o níquel, os principais efeitos da contaminação pelo metal são alergias de pele, fibrose pulmonar, problemas nos rins e comprometimento do sistema cardiovascular.
A intoxicação por cádmio pode provocar o desenvolvimento de doenças como anemia, câncer, degeneração do cérebro, disfunção pulmonar e renal, hipertensão, doenças vasculares, infarto, osteoporose, Parkinson e Alzheimer.
Sequência
O coordenador da pesquisa, Sandro Xavier de Campos, destacou que as pesquisas seguem em andamento e o próximo passo será descobrir se os cigarros contrabandeados apresentam concentração de nicotina maior que os produtos legais.
“Estudos prévios já têm mostrado que a concentração é maior”, pontuou. Outro desdobramento da pesquisa será verificar se a composição do cigarro contrabandeado tem pesticidas proibidos no Brasil.
‘Estava pesado financeiramente’
A dona de casa Cláudia (nome fictício), 53 anos, fumou durante 15 anos cigarros legais, mas há dois anos migrou para duas marcas contrabandeadas que estão no topo da participação de mercado em Ribeirão Preto: Eight (43,9% em 2017) e Palermo (8,5%), primeira e terceira colocadas, respectivamente.
Segundo ela, o motivo da troca foi economizar a dona de casa sabe que as duas marcas que fuma atualmente são contrabandeadas. “Estava ficando muito pesado financeiramente, fumo um maço por dia, um cigarro bom está custando mais de R$ 8”, comparou. A marca legal que ela fumava antes custa hoje R$ 8,25 no Estado de São Paulo. Cláudia sente que as duas marcas são de pior qualidade. “Fico com a boca mais seca e mais amarga depois, e antes com o cigarro mais caro não ficava”, declarou. Ela não tinha conhecimento da pesquisa mostrando que o cigarro contrabandeado é mais nocivo à saúde que o legalizado. “Para mim é novidade, pensei que os dois faziam mal igual”, concluiu.
Cigarro é o produto mais apreendido
O cigarro é o produto mais contrabandeado que chega ao Brasil. É o que mostra o volume de apreensões em 2017 segundo levantamento feito pela Receita Federal. No ano passado, foram apreendidos 221 milhões de maços de cigarros contrabandeados, que representaram 47% do total das apreensões de produtos contrabandeados e uma soma de R$ 1,08 bilhão. Em segundo lugar ficaram os eletrônicos: foram apreendidos 2,3 milhões de unidades, que somaram R$ 137,8 milhões e representaram 6% do total das apreensões (leia mais no quadro os dez produtos contrabandeados mais apreendidos em 2017).
Fábricas falsificam marcas paraguaias
O presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, Edson Vismona, destaca que uma outra situação faz com que o contrabando ganhe força no País.Há casos em que os produtos são fabricados no Brasil por indústrias que sonegam. “3% das empresas que fabricam não pagam impostos, atuam na falsificação de marcas paraguaias”, pontuou. Para o consumidor, a falsificação por vezes é difícil de notar, já que em algumas embalagens existe até advertência do Ministério da Saúde, dando aparência de um produto legal. É o caso, por exemplo, da marca de cigarros Eight a reportagem encontrou pelo menos duas embalagens totalmente distintas supostamente do mesmo produto.
Análise
Governo fracassa na contenção
“O governo federal fracassou na contenção do contrabando, que deveria ser uma das prioridades. Os produtos acabam entrando pela fronteira internacional e as ações de combate são insuficientes, não conseguem frear.
Com isso a abrangência da prática criminosa acaba ficando gigantesca, o contrabando está praticamente livre no País. O contrabando e a pirataria arrecadam quase sete vezes mais que o tráfico de drogas no Brasil.
Além disso, geram bilhões de prejuízo na arrecadação para governos que hoje têm problemas até para conseguir pagar as polícias. Se esse dinheiro fosse aplicado na polícia, haveria uma verdadeira revolução na segurança pública.
Para combater o contrabando, primeiro é necessário implantar novas tecnologias nas principais entradas do País scanners para verificar cargas, por exemplo.”
José Vicente da Silva Filho
Ex-secretário nacional de Segurança Pública
Outro lado
Em 10 anos, 1,7 mil prisões
Por meio da assessoria de imprensa, a PF (Polícia Federal) informou que, nos últimos dez anos, realizou mais de 200 operações relacionadas ao combate ao contrabando e descaminho no País, totalizando cerca de 1,2 mil prisões por mandado judicial e 500 prisões em flagrante, além do cumprimento de mais de 2,5 mil mandados de busca e apreensão e a apreensão de mais de R$ 200 milhões em bens e mercadorias.
“O foco da Polícia Federal é na identificação e desarticulação de quadrilhas, sobretudo com a adoção de medidas cautelares criminais específicas, como prisões e sequestro de bens e proveitos da prática criminosa. Nesse sentido, são realizadas anualmente dezenas de operações especiais de Polícia Judiciária, em muitos casos em parceria com outros órgãos”, afirmou.
A PF acrescenta que, segundo o artigo 144 da Constituição Federal, compete com exclusividade à Polícia Federal a repressão aos crimes de contrabando e descaminho em todo o território nacional, sem prejuízo das ações fiscalizatórias e administrativas desempenhadas pela Receita Federal e pelas Receitas Estaduais.
Outro lado
648 mil maços apreendidos
A Secretaria da Segurança Pública informou que, desde o início do ano, as polícias Civil e Militar apreenderam 648 mil maços de cigarros contrabandeados na região de Ribeirão Preto. Em todo o Estado, de acordo com a pasta, foram 17,8 milhões.
“As investigações desses crimes são feitas a partir de informações colhidas por vítimas, assim como, quando possível, pelo reconhecimento dos suspeitos. Além disso, são realizados cruzamentos de dados com outras regiões, para tentar identificar e prender integrantes de quadrilhas especializadas. Nos sete primeiros meses deste ano, os crimes de roubo de carga apresentaram queda de 18,5% no município de Ribeirão Preto.”
A Polícia Rodoviária realiza operações, abordagens e fiscalizações a caminhões de transporte de carga e de veículos de médio e grande porte ao longo das rodovias. “Além disso, a instituição intensifica as ações em locais críticos, conforme levantamentos dos índices criminais, preparando roteiros e horários de patrulhamento”, conclui.
Fonte: acidadeon.com
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