REGIÃO: Polícia Civil apura suspeita de negligência em morte de bebê após parto
Certidão de óbito da Mater aponta que menino teve falta de oxigênio no cérebro, além de aspirar as próprias fezes. Pais dizem que morte poderia ter sido evitada com cesárea.
A Polícia Civil investiga as circunstâncias da morte de um recém-nascido, que teve falta de oxigênio e aspirou as próprias fezes, logo após o parto em Ribeirão Preto (SP).
Os pais do bebê afirmam que houve negligência no atendimento do Centro de Referência da Saúde da Mulher, mais conhecido como Mater, porque a equipe não realizou uma cesárea em vez do parto normal.
Consta na certidão de óbito que Pedro Ronaldo Rodrigues Muniz morreu em decorrência de “anoxia perinatal”, que é a diminuição de oxigênio no cérebro durante o nascimento, e “aspiração maciça de mecônio” – as primeiras fezes eliminadas por um recém-nascido.
Em nota, a Mater informou que a mãe do bebê Elaine Rodrigues, de 40 anos, foi atendida prontamente ao dar entrada na unidade, porém, ela ainda não estava em trabalho de parto.
“Foi induzido dentro dos protocolos nacionais e internacionais de atenção à gestante, conforme conta na apuração preliminar já em andamento pela unidade. Não havia indicação médica de cesárea para seu caso e o bebê apresentava sinais vitais normais”, informa o comunicado.
Elaine Rodrigues, que estava com 38 semanas de gestação, disse que foi internada na Mater, no dia 4 de janeiro, por volta das 17h50, para o nascimento do filho. Depois de aproximadamente 15 horas de trabalho de parto, a equipe médica não conseguiu salvar a criança, que nasceu morta, segundo a mãe.
“Eu penso que não tem explicação, porque foi tudo normal. Eu tive um pré-natal normal. Na sexta-feira fui lá, fiz ultrassom, nem esperava que ele fosse nascer. Então, entrei lá querendo sair com o meu filho no colo. Eu pedi a cesárea. Falei: ‘doutor, não consigo’. Eu não tinha mais força. Eu tinha planos, tinha sonhos. Eles mataram o meu sonho, mataram a minha vida”, afirma.
Segundo a mãe do bebê, a equipe médica se recusou a realizar a cesárea no parto. Elaine afirmou ainda que um dia antes realizou o exame de ultrassom na Mater e, aparentemente, a criança estava sadia.
“Meu filho entrou sadio e saiu de lá morto. Ele era lindo, perfeito, parecia que estava dormindo. Para mim estava tudo certo, eu estava na mão de um profissional. Faltou um pouco mais de empenho, no mínimo, uma avaliação a mais”, disse.
Inconformado, o pai do recém-nascido, Ronaldo José Vicente Muniz, diz que os últimos pré-natais realizados no Centro de Referência da Saúde da Mulher não constataram problemas na criança. Entretanto, ele afirma que, no dia anterior ao parto, a equipe médica confirmou que Elaine estava com infecção urinária.
“A todo o momento pedia para os médicos: ‘pessoal faz a cesárea, ela está com dor, está com infecção urinária, ela não está com condições de ter parto normal’. Os médicos falavam: ‘não, pai, ela tem condições, sim’’”, contou.
Ainda de acordo com Muniz, após a morte do bebê, a Mater o entregou a primeira certidão de óbito sem constar que a mulher dele estava com infecção urinária durante a gestação.
“Foi um absurdo, uma mulher de 40 anos, duas anestesias, mais de 15 horas de parto e o meu filho morrer. Sendo que nós pedimos a cesárea. Eu pedi para todos. O menino tinha 3 quilos e meio, era perfeito. Tudo feito dentro da Mater. Eles sabiam da infecção urinária”, afirmou.
“Se tivesse feito a cesárea, hoje eu não teria o atestado de óbito. Eu ia ter o meu filho aqui. A cesárea poderia ter salvado”, completou.
A família espera que as causas da morte do bebê sejam investigadas. “Nós estamos expondo a nossa dor para que nenhum pai ou mãe passe pelo que sofremos dentro da Mater. Nada e ninguém vai trazer o nosso filho de volta. Mas acredito na polícia, na investigação e só espero justiça”, afirmou Muniz.
Mater
A Mater informou que todos os documentos relacionados ao óbito foram providenciados e fornecidos, bem como os esclarecimentos à família.
“A unidade segue à disposição dos familiares e autoridades para colaborar com as investigações, e tomará as providências cabíveis se constatada qualquer falha assistencial”, completou, em nota.
Fonte: G1
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