BEBEDOURO: Clínica é fechada por suspeita de cárcere privado e maus-tratos contra pacientes
Vítimas relataram agressões e disseram que não tinham autorização para sair da propriedade, na zona rural. Donos devem responder ainda por estelionato, tortura e crimes contra a saúde pública.
Uma clínica de reabilitação para dependentes químicos foi fechada pela prefeitura nesta sexta-feira (13) em Bebedouro (SP) por suspeita de práticas de tortura, cárcere privado e maus-tratos contra pacientes.
Segundo a força-tarefa envolvendo Ministério Público, Vigilância Sanitária, Polícia Civil e Prefeitura, pelo menos 53 pessoas estariam vivendo trancadas e em condições precárias no local, que fica na zona rural.
As denúncias foram feitas à Prefeitura e ao Ministério Público. Nesta sexta-feira, agentes deflagraram uma operação e constataram irregularidades. Pacientes disseram ter testemunhado agressões e que os donos eram responsáveis.
“Eu vi agressões contra meus amigos que estão aqui em busca de um tratamento. A gente acabava sendo oprimido pelos próprios donos, não pelos funcionários. Eles sempre davam uma força, uma atenção”, diz um homem, que prefere não ser identificado.
Além de agressões físicas, eles relataram dificuldades para conseguir remédios e manipulação de familiares dos pacientes por parte dos donos. Segundo os pacientes, as situações de maus-tratos não eram praticadas pelos funcionários.
“Era algo desumano. Eu vi seis acolhidos serem agredidos fisicamente, torturados mentalmente, feitos depoimentos distorcidos contra eles para converter a situação. Eu vi famílias de acolhidos sendo manipuladas, eles passarem por necessidade de medicação, necessidade médica, por conta dos proprietários da clinica, não pelos profissionais da área.”
Outro paciente que também não quis se identificar diz que todos eram proibidos de deixar a clínica e que havia punição para quem desrespeitasse as ordens dos monitores.
“A gente está aqui dentro para um tratamento, mas o tratamento era muito bruto e a gente não tinha liberdade. Não podíamos sair para lugar nenhum, nem no portão. A gente já era chamado atenção, era punido pelos monitores, coordenadores. Se caso a gente passasse dos limites, eles cortavam ligações, passava um mês sem TV.”
Precariedade
Durante a operação, restos de carnes foram encontrados guardados em um carrinho de obras na cozinha, sem qualquer refrigeração ou proteção. Alimentos sem etiquetas de procedência foram encontrados no freezer. Pelas instalações, pacientes dividiam beliches em espaços apertados e sem ventilação.
De acordo com as autoridades, os contratos tinham validade de um ano e cada paciente pagava cerca mil reais de mensalidade. Caso a pessoa optasse por sair antes do fim do acordo, tinha que pagar uma multa R$ 5 mil. Alguns pacientes chegaram a dizer que estavam no local há sete ou dez anos.
Atendimento às vítimas
As vítimas são de várias cidades do interior de São Paulo e até de outros estados. De acordo com a prefeitura, todos os pacientes estão sendo acolhidos pela Secretaria de Promoção e Assistência Social.
A Polícia Civil deve entrar em contato com os parentes e os responsáveis por cada um deles para que possam voltar para casa.
Os donos da clínica foram encaminhados à delegacia para prestar esclarecimentos e podem responder por estelionato, tortura, maus-tratos, crimes ligados a saúde publica e cárcere privado.
Fonte: G1
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