Amapá confirma as duas primeiras mortes por sarampo do país em 2021
Vítimas da doença eram crianças ainda sem idade para vacinar: uma menina indígena de 4 meses e outra de 7 meses. Estado tem 80% dos infectados do país neste ano.
O Amapá registrou as duas primeiras – e únicas – mortes por sarampo em 2021 confirmadas até o momento no Brasil, segundo o Ministério da Saúde e o governo estadual. As vítimas, de 4 e 7 meses, ainda não tinham idade para vacinação à época em que foram confirmadas com a doença – a dose inicial é aplicada a partir dos 6 meses.
A primeira morte foi confirmada em 28 de março em Macapá. A bebê de 7 meses apresentou os sintomas iniciais em 24 de fevereiro, mais de um mês antes. Ela vivia com a família na Zona Oeste da capital.
O outro óbito era investigado entre duas gêmeas indígenas, de 4 meses, que morreram em dias diferentes com sintomas parecidos. Uma em 19 de abril e outra em 1º de maio em Pedra Branca do Amapari.
A Superintendência de Vigilância em Saúde do Amapá (SVS) confirmou a morte de uma delas por sarampo na sexta-feira (14), após resultados de exames enviados para análise na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Uma morreu de sarampo e a outra de dengue.
“Até o dia 14/05, não há outros casos de mortes notificados em outros estados brasileiros. O Ministério da Saúde reforça que apoia estados e municípios em ações de bloqueio, prevenção, rastreamento de casos e investigações necessárias para o enfrentamento à doença”, informou o Ministério em nota.
A confirmação das mortes acontece no momento em que o estado vive um surto da doença ao superar, em quatro meses e meio, todos os casos de sarampo registrados ao longo de 2020.
De acordo com dados da SVS, apenas nos 5 primeiros meses de 2021 o Amapá já superou o número de registros da doença catalogados durante todo o ano de 2020.
Até 11 de maio, foram 320 pessoas confirmadas com sarampo, diante de 297 entre janeiro e dezembro do ano passado. Outras 18 notificações estão sob investigação epidemiológica.
Boletim da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde evidenciam ainda mais a crise da doença no estado. Com dados até 16 de abril, o Amapá, com 260 confirmações, é responsável por 80,6% de todos os novos casos de sarampo de todo o país.
O sarampo tinha sido eliminado do Brasil em 2016. O vírus da doença foi reintroduzido em 2018 a partir da Venezuela e encontrou uma grande parcela da população desprotegida, não vacinada contra a doença.
Depois de 22 anos, o Amapá registrou os primeiros casos em outubro de 2019 e, desde então, enfrenta um surto da doença. As mortes das meninas eram as primeiras investigadas no estado.
Em 2020, o Ministério da Saúde confirmou 10 óbitos por sarampo no país, nenhum no Amapá. Foram 8 no Pará, 1 no Rio de Janeiro e 1 em São Paulo.
Baixa vacinação e pandemia elevaram crise
Para a SVS, do governo estadual, o surgimento de um novo surto da doença está associado à baixa imunização, mesmo com a campanha realizada ao longo de 2020 que, inclusive, realizou a vacinação de casa em casa buscando elevar a imunidade da população.
O sarampo é altamente contagioso e é provocado através da transmissão viral, que ocorre da mesma forma que a gripe e a Covid-19: de pessoa para pessoa, através da tosse e secreções.
Entre os motivos que levaram a baixa procura pela vacina, segundo a SVS, estão o medo da pandemia, a insuficiência de equipes do Programa Saúde da Família e falta de alimentação no sistema do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI).
“Também por um lado, o isolamento social que deixou as famílias dentro de casa, por outro lado também a pouca entrada das equipes do Saúde da Família até pela própria condição. Isso provavelmente estimulou essa situação que nós vivemos hoje”, pontuou Dorinaldo Malafaia, chefe da Vigilância em Saúde do Amapá.
Alerta com as crianças
Apesar de o sarampo ser facilmente prevenido com a vacina, bebês menores de 6 meses não podem ser imunizados e estão mais vulneráveis durante o surto da doença.
É o caso do filho da Walbiane Ribeiro, de apenas 4 meses e que está internado há cerca de 9 dias, sendo diagnosticado com sarampo.
Segundo a mãe, a criança havia dado entrada no hospital com pneumonia e ficou internada no hospital até 25 de abril, data em que foi transferida para a pediatria neonatal, onde passou mais 4 dias no local e recebeu alta em 29 de abril.
Alguns dias após o retorno para casa, o bebê começou a apresentar sintomas de sarampo como tosse, olhos vermelhos, manchas vermelhas na pele e na boca. Em 6 de abril, retornou para o Pronto Atendimento Infantil (PAI) e recebeu o diagnostico da doença.
“Ele foi direto para o isolamento porque era sarampo, neste lugar tinha mais duas mães com bebês com sarampo. Ele foi atendido e apresentou melhora no domingo (9), depois foi transferido aqui para a pediatria. Está aqui com duas crianças com sarampo numa sala isolada”, relatou a mãe.
Sarampo
O sarampo é uma doença altamente contagiosa, sendo transmitida por meio da fala, tosse e espirro. A doença pode deixar sequelas por toda a vida ou mesmo ser letal.
A pessoa contaminada pode apresentar mal-estar geral, febre, manchas vermelhas que aparecem no rosto e vão descendo por todo o corpo, além de tosse, coriza e conjuntivite. A recomendação é que pessoas entre 6 meses de idade e 59 anos se vacinem.
A imunização contra o sarampo é ofertada em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS) e protege ainda contra outras duas doenças: caxumba e rubéola.
É recomendável que, até os 29 anos, a pessoa tenha tomado 2 doses da tríplice viral; caso não tenha tomado, ela é imunizada em 2 etapas. Se tem entre 30 e 59 anos e nunca se imunizou, a pessoa deve receber 1 dose.
“As pessoas têm medo de procurar uma unidade de saúde para poder vacinar os seus filhos, levar para tomar vacina. Outra situação que nós observamos é que alguns municípios ainda estão com dificuldades na digitação dos dados de vacinação”, explicou Andréa Marvão, coordenadora de Imunização do Amapá.
Contraindicações
Pessoas com suspeita de sarampo, imunocomprometidas, gestantes e crianças com menos de 6 meses não devem receber a vacina.
Alérgicos a proteínas do leite de vaca devem informar a condição ao profissional de saúde no posto de vacinação para que recebam a dose feita sem esse componente.
Fonte: G1
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