Depressão: A doença silenciosa que também afeta os jovens
Um em cada cinco adolescentes apresenta sintomas depressivos e 30% deles chegam a tentar suicídio; Fique atento: situação é grave e precisa de tratamento
Marcada por descobertas, altos e baixos, desejos e, principalmente, uma vontade de viver intensamente, a adolescência pode ser também um período marcado por sofrimento. E o que vemos nos dias de hoje em muitos jovens dos mais diversos perfis, confirma uma triste constatação de estudos recentes: de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão é a segunda causa de morte entre jovens da faixa etária entre 15 e 29 anos.
De maneira alarmante, a depressão vem se alastrando entre as parcelas mais jovens da população e estima-se que hoje, cerca de 15% desta faixa etária sofre com esta doença. Por outro lado, a atenção sobre este transtorno também é crescente, possibilitando intervenções precoces e, acima de tudo, mais conscientização a respeito da doença.
“ACHEI QUE ESTAVA PERDENDO MEU FILHO”
Quem olha o adolescente Caio (nome fictício), 16 anos, hoje, cheio de vida e saúde, não imagina que há dois anos era travada uma verdadeira batalha todas as manhãs. O jovem não tinha o mínimo desejo de levantar da cama, não comia, evitava sair do quarto e, segundo a mãe, Janaína (nome fictício), era dilacerante ver a situação do filho sem poder fazer muita coisa diretamente.
“Ele dizia que viver não valia a pena, que queria morrer, não tinha fé. Era muito pesado, achei que fosse perder meu filho. Mas graças a Deus ele aceitou ir ao psicólogo”. A abertura do jovem ao tratamento com profissionais foi o pontapé inicial para uma melhora efetiva. No total, foram dois anos de tratamento contra a depressão.
A situação do adolescente, de acordo com a mãe, pode ter sido desencadeada após o afastamento do pai dele. Casado e com outra família, o pai teria deixado o filho mais velho de lado, o que teria sido sentido de forma avassaladora pelo garoto.
“É algo muito estranho, o pai é ausente, se afastou completamente do filho, não paga nem pensão. O psicólogo disse com todas as letras que esse afastamento do pai trouxe sequelas muito sérias ao meu filho”, explica a mãe.
Segundo ela, a troca de escola foi muito importante para que o jovem se sentisse mais acolhido e fosse recepcionado em um ambiente de carinho. “Conversei com a direção da escola antes do primeiro dia de aula dele e foi feito todo um trabalho com os professores e alunos da sala dele. Isso foi muito importante para a recuperação do meu filho”.
Se, por um lado, o jovem sofre e tem sua vida completamente afetada por uma tristeza sem fim, a mãe e a família também acabam ficando suscetíveis. Em situações como esta, é comum que a família inteira adoeça junto com o depressivo.
Janaína, no entanto, explica que a prática da meditação foi crucial para ajudá-la a passar por este período de forma mais equilibrada. “Por conta de um período difícil na minha vida em 2012, passei a meditar todos os dias e me tornei uma pessoa de muita fé. Não que você esteja bem 100% quando medita, mas ajuda muito a ficar centrada nos momentos de desequilíbrio”, conta, dizendo que só assim conseguiu ajudar o filho, mostrando que estava ali, ao lado dele, para qualquer situação.
O PAPEL DOS PAIS
A situação do adolescente Caio é relativamente comum em casos de famílias desfeitas ou com algum tipo de problema de relacionamento. O abandono parental, como afirma a psicóloga do garoto, pode causar traumas e sequelas que se arrastam por anos e anos, quando não por uma vida toda.
No entanto, a depressão pode atingir os jovens de modo sorrateiro, sem que exista uma causa aparentemente identificável como esta. O uso excessivo da tecnologia tem sido apontado pela OMS como uma das razões pelas quais os adolescentes têm apresentado quadros de depressão, ansiedade generalizada e, infelizmente, risco de suicídio.
Aqui no Brasil, mantemos um troféu complicado de carregar: somos o campeão mundial no índice de ansiedade global, com 9,3% da população manifestando o quadro. As mulheres são as mais afetadas: 7,7% das mulheres são ansiosas e 5,1% são depressivas, de acordo com relatório da OMS.
E quando falamos em depressão entre adolescentes, os números ficam ainda mais assustadores: um em cada cinco jovens entre 12 e 18 anos apresenta sintomas depressivos.
De acordo com a psiquiatra Taciana Costa Dias, especializada em infância e adolescência, é importante enfatizar que a adolescência é um período particularmente vulnerável para o surgimento de depressão por ser uma fase de mudanças intensas, tanto biológicas (como modificações cerebrais e hormonais) quanto sociais.
Apesar de a depressão ter critérios de diagnóstico parecidos para meninas e meninos e se manifestar entre os dois gêneros, a taxa de depressão em meninas é praticamente o dobro do que ocorre em meninos. Segundo Taciana, meninas têm maior chance de tentar suicídio, enquanto os meninos têm maior chance de completar o ato.
NÃO É SÓ UMA FASE
Para a psiquiatra, os pais têm um papel fundamental no tratamento da depressão do adolescente, sendo que o principal erro é entender a doença como “apenas uma fase”. “Infelizmente, ainda existe um estigma associado a doenças mentais, especialmente na infância e na adolescência. Existe o medo de que o indivíduo com transtorno psiquiátrico, entre eles a depressão, seja rotulado ou tratado de forma inadequada pelos colegas. Também há um temor de que as medicações possam deixar o adolescente “dopado” ou mudar sua personalidade. Com isto, alguns pais podem preferir esperar para ver se o problema vai se resolver sozinho, se é apenas uma fase”, explica.
Embora não haja diferença entre os gêneros, a depressão pode se manifestar de forma diferente em diferentes faixas etárias. Por exemplo, o adolescente com depressão não costuma apresentar aquele quadro típico de apatia, tristeza e pouca resposta emocional. “Em vez disto, muitas vezes, o jovem apresenta quadro de irritabilidade maior, tem aumento de sono, é sensível à rejeição e poderá ser capaz de se animar momentaneamente em situações positivas”.
Por isso, segundo a psiquiatra, ainda é tão difícil para a família identificar com precisão um possível quadro depressivo no adolescente. E ainda há o agravante de que muitos jovens não têm habilidades para externar aquilo que sentem, tornando a percepção ainda mais complicada.
SINAIS DE ALERTA
Para se fazer o diagnóstico de depressão, é necessário que o adolescente apresente pelo menos 5 dos sintomas descritos abaixo. Se notar estas características em seu filho, procure ajuda especializada.
1)Tristeza, infelicidade ou irritabilidade persistente
2)Perda de interesse ou prazer em atividades corriqueiras
3)Sentimento de culpa
4)Dificuldade de concentração ou indecisão
5)Alterações do apetite (redução ou aumento)
6)Insônia ou outros problemas de sono
7)Falta de energia ou fadiga e cansaço
8)Pensamentos suicidas ou ideias de morte
9)Agitação ou lentidão de movimentos ou pensamento.
BUSQUE AJUDA O QUANTO ANTES
FONTE: www.acidadeon.com
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