REGIÃO: Acusados de matar mãe e bebês gêmeos vão a júri popular
Réus podem pegar até 70 anos de prisão por homicídio qualificado, segundo MP. Promotor diz que empresário arquitetou crimes em 2015 por não aceitar suposta paternidade atribuída a ele.
Os dois acusados de executar a jovem Izabella Gianvechio, de 22 anos, e seus dois filhos gêmeos em fevereiro de 2015 vão a júri popular nesta terça-feira (9) no Fórum de Igarapava (SP).
O empresário Matuzalém Ferreira Junior e o ex-funcionário dele Antônio Moreira Pires, o Pedrão, respondem por homicídio doloso qualificado e atualmente estão presos na Penitenciária de Tremembé (SP).
Pedrão é apontado pelo Ministério Público como o autor dos disparos que mataram a mãe e os bebês Ana Flávia e Lucas, que tinham dois meses de vida. O empresário é acusado de ser o mandante dos crimes e de ter contribuído para a execução, motivado por não aceitar a suposta paternidade dos gêmeos, que não se confirmou.
As vítimas eram de Uberaba (MG), mas a mãe foi encontrada morta em Aramina (SP) e as crianças, em Buritizal (SP).
Promotor responsável pela acusação, Dilson Santiago de Souza estima que, em caso de condenação, cada um dos réus pode pegar até 70 anos de prisão. Além do motivo torpe, o MP apontou que os crimes foram cometidos sob promessa de recompensa e mediante recurso que impossibilitou a defesa das vítimas.
“As provas são contundentes, são claras, e espera-se que eles sejam condenados por esses três gravíssimos crimes”, afirma Souza.
No decorrer do processo, os acusados negaram a autoria do crime e culparam um ao outro.
“Ele [o empresário] não teve participação mesmo porque ele tinha certeza que ele não era o pai das crianças”, afirmou o advogado de defesa de Ferreira Junior, Antônio Carlos de Oliveira, na segunda-feira (8).
Júri popular
Confirmado desde setembro, o julgamento foi programado para começar às 9h, com a expectativa de se estender por toda a terça-feira.
Depois de definido o júri – sete entre 25 pessoas devem ser escolhidas -, serão ouvidas as testemunhas de acusação e de defesa. Depois do interrogatório dos réus e das argumentações, será a vez da promotoria expor suas alegações.
“A prova é contundente de que Matuzalém contratou Antônio Moreira Pires, o Pedrão, para executar Izabella e os bebês em função da possível paternidade a ele atribuída. Acabaram executando esses crimes, primeiro executaram a Izabella, posteriormente os bebês, sempre com Pedrão portando a arma de fogo, efetuando os disparos, e Matuzalém, junto com ele, ajudando a conter Izabella”, afirma o promotor.
Antes de o júri se reunir para dar o parecer final, abre-se espaço para as falas do advogado de defesa.
“Meu cliente nega a autoria dos fatos imputando a autoria do crime ao Antônio, o Pedrão, dizendo que ele estava drogado e depois de discutir com a Izabella acabou atirando nela. Na sequência, sob ameaça, fez ele [o empresário] conduzir o veículo até um outro local onde o Pedrão acabou por matar as crianças”, afirma Oliveira.
O crime
Izabella foi encontrada morta com um tiro na cabeça em 12 de fevereiro de 2015, às margens da Rodovia José Schiavotelo (SP-426), em Aramina, após desaparecer de Uberaba (MG), onde morava com os filhos gêmeos.
Ela chegou a ser enterrada sem que fosse reconhecida, mas uma equipe de investigação da Polícia Civil de Minas Gerais, ao saber da localização do corpo, solicitou fotos da vítima e confirmou que se tratava da jovem desaparecida.
Os bebês, Ana Flávia e Lucas, que tinham dois meses, foram encontrados mortos a tiros em 17 de fevereiro, em uma estrada de terra em Buritizal, depois que Matuzalém Ferreira Junior – até então apontado como pai das crianças – se entregou à Polícia Civil.
O empresário negou o homicídio e atribuiu o crime a Pedrão, preso em 19 de fevereiro, escondido em uma fazenda na região de Sacramento (MG), durante uma operação comandada pela Polícia Civil, com apoio da Polícia Militar.
Investigações
Em um áudio entregue à polícia por familiares de Izabella, a jovem conta a uma amiga que se encontraria com o empresário, até então apontado como pai das crianças e que se recusava a reconhecer a paternidade dos gêmeos.
Izabella pediu a um parente, que é taxista, levá-la ao local do encontro. Após deixá-la no endereço, em Uberaba, o homem disse que seguiu o carro do acusado, mas perdeu o veículo de vista.
Uma câmera nas imediações do Parque Fernando Costa flagrou o momento em que Pedrão entra no carro, onde já estavam Izabella e os bebês. Na acareação, os suspeitos negaram a autoria do crime e culparam um ao outro.
As investigações concluíram que as crianças foram mortas pouco tempo depois de a mãe ter sido assassinada e o corpo deixado em Aramina.
O carro usado pela dupla foi encontrado queimado em uma fazenda próxima à Rodovia Cândido Portinari (SP-334), em Pedregulho (SP). Dentro dele estava um revólver calibre 38 que, segundo a polícia, foi usado no crime.
Após a Polícia Civil denunciar os acusados, um exame de DNA descartou que Matuzalém fosse pai das crianças. Para o Ministério Público, o fato não minimiza a culpa dele nos homicídios ou o julgamento do caso.
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