BRASIL: Nuzman e ex-diretor de Comitê Olímpíco são presos em operação que investiga fraudes na escolha da Rio 2016
5 de outubro de 2017 1028 Visualizações

BRASIL: Nuzman e ex-diretor de Comitê Olímpíco são presos em operação que investiga fraudes na escolha da Rio 2016

Carlos Arthur Nuzman e Leonardo Gryner foram presos, no início da manhã desta quinta-feira, em endereços da Zona Sul da cidade. PF e MPF investigam compra de jurados para a eleição da sede olímpica.

 

Agentes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal prenderam Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio 2016, e Leonardo Gryner, ex-diretor de operações do comitê Rio 2016 e braço-direito de Nuzman, na manhã desta quinta-feira (5), na Zona Sul do Rio.

Nuzman é suspeito de intermediar a compra de votos de integrantes do Comitê Olímpíco Internacional (COI) para a eleição do Rio como sede da Olimpíada de 2016. Ele foi preso em casa, no Leblon, por volta das 6h. Nuzman é presidente do COB há 22 anos. O pedido de prisão temporária foi decretado pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. (Veja a íntegra da decisão).

Nuzman deixou sua casa, no Jardim Pernambuco, uma das áreas mais nobres do Leblon, por volta das 8h30. Ele foi conduzido por agentes para a sede da Polícia Federal, no Centro.

Segundo a defesa de Nuzman, a medida adotada foi dura. “Vou me inteirar dos fatos agora .Eu não tenho a menor ideia. Vou saber agora o que se passa e quais são os fundamentos dessa medida. É uma medida dura e não é usual dentro do devido processo legal”, afirmou Nélio Machado.

Segundo o Ministério Público Federal, o pedido de prisão foi decretado porque houve uma tentativa de ocultação de bens no último mês, após a polícia ter cumprido um mandado de busca na casa de Nuzman no mês passado. Entre os bens ocultados, há valores em espécie e 16 quilos de ouro que estariam em um cofre na Suíça.

A ação é um desdobramento da “Unfair Play”, uma menção a jogo sujo e que é mais uma etapa da Lava Jato no Rio. Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Também estão sendo cumpridos mandados de busca na casa dos suspeitos presos, além do bloqueio e indisponibilidade de bens de ambos. Ainda há um pedido de quebra de sigilo telefônico de Maria Celeste de Lourdes Campos Pedroso.

O esquema de corrupção, segundo os investigadores, tem a participação do ex-governador Sérgio Cabral. O dinheiro teria vindo do empresário Arthur Cesar Soares de Menezes Filho, conhecido como Rei Arthur, que também teve mandado de prisão decretado, mas está foragido da justiça.

Gryner foi preso em casa, em um apartamento de luxo em Laranjeiras, na Zona Sul. Ex-diretor do COB, ele também foi diretor de Comunicação e Marketing da candidatura do Rio à sede olímpica, e teve encontros com o filho do presidente da Federação Internacional de Atletismo, suspeito de ter recebido propina para votar no Rio de Janeiro como sede dos jogos.

Segundo os investigadores, as provas colhidas na primeira etapa da “Unfair Play” mostram evidências de que Nuzman e Gryner foram os agentes responsáveis por fazer a ligação entre o esquema de propinas de Cabral e membros africanos do COI, por meio de Arthur Soares.

As visitas de Cabral, Gryner e Nuzman a vários membros do Comitê que escolheria a sede dos Jogos Olímpicos de 2016 foram admitidas, inclusive, pelo próprio ex-governador durante depoimento à Justiça Federal na Operação Eficiência.

Ainda de acordo com o MPF, as prisões temporárias de Nuzman e Gryner eram fundamentais não só como garantia da ordem pública, como para permitir bloquear o patrimônio e impedir que ambos continuem cometendo crimes e ocultando provas.

Mesmo com toda a investigação e deflagração da operação há cerca de um mês, não houve nenhuma movimentação para afastar Nuzman e Gryner de suas funções junto ao COB e ambos continuavam gerindo os contratos firmados pelo Comitê. Dessa forma, segundo o MPF, eles continuavam a ter acesso ao dinheiro público, documentos e informações importantes para as investigações.

No mês passado, quando prestou depoimento na sede da PF, Nuzman se reservou ao direito de não falar durante o interrogatório. A defesa dele afirmou, porém, que durante o depoimento “foi esclarecido e reiterado que toda a jornada da Olimpíada da Cidade do Rio de Janeiro, da candidatura à cerimônia de encerramento, foi conduzida dentro da lei e das melhores práticas financeiras, técnicas, operacionais, esportivas e de comunicação”.

Em março, o jornal francês “Le Monde” havia denunciado que, três dias antes da escolha da cidade, houve pagamento de propina a dirigentes do Comitê Olímpico Internacional.

A investigação francesa conseguiu reunir elementos que apontam que a empresa Matlock foi utilizada para pagamento de US$ 2 milhões a Papa Diack, filho de um dirigente africano que detinha poder de voto para a escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Segundos os investigadores, a Matlock também foi usada para pagamento de propina a Sérgio Cabral. De acordo com depoimento do doleiro e delator Renato Chebar, documentos encaminhados por meio de cooperação internacional com Antígua e Barbuda não deixam dúvidas de quem era o real proprietário da empresa que tinha sede registrada nas Ilhas Virgens Britânicas: Arthur César de Menezes Soares Filhos.

No mês passado, o Ministério Público Federal (MPF) pediu o bloqueio de até R$ 1 bilhão do patrimônio de Carlos Arthur Nuzman, do empresário Arthur Cesar Soares de Menezes Filho, o “Rei Arthur”, e de Eliane Pereira Cavalcante, ex-sócia do empresário. O objetivo, segundo procuradores, era reparar os danos causados pelo trio devido às proporções mundiais da acusação.

Organização criminosa internacional

De acordo com o Ministério Público, as fronteiras internacionais não limitaram a atuação da organização criminosa do ex-governador Sérgio Cabral. Para os procuradores, “trata-se de um esquema altamente sofisticado, que agia internacionalmente com desenvoltura e uma engenhosa e complexa relação corrupta”. Prova disso é que, para alcançar o atual estágio da investigação, o MPF teve que realizar pedidos de cooperação jurídica internacional com nada menos que quatro países diferentes: Antígua e Barbuda, França, Estados Unidos e Reino Unido.

Durante as investigações, o Ministério Público Francês colheu substancioso material para demonstrar que houve compra de votos para escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Um dos votos foi comprado de Lamine Diack, então presidente da Federação Internacional de Atletismo e então membro do Comitê Olímpico Internacional, por meio de seu filho, Papa Massata Diack.

FONTE: G1.com

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