REGIÃO: Pedreiro é achado ferido por armadilha de caça 2 dias após desaparecer
Atingido enquanto caminhava às margens do Rio Pardo, homem sofreu fratura exposta na perna. Amigo conta que vítima ingeriu urina e se alimentou de capim até ser achado, e levado a hospital.
Um pedreiro que estava desaparecido há dois dias foi encontrado ferido por um tiro de arpão de caça às margens do Rio Pardo, em Ribeirão Preto (SP). José Alcides da Silva, de 43 anos, foi levado à Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE), onde segue internado.
Amigos que auxiliaram nas buscas com um barco disseram que o pedreiro ficou preso em uma armadilha usada para capturar capivaras. Sem conseguir deixar o local e com fratura exposta na perna, Silva teria ingerido água lamacenta e se alimentado de capim até ser localizado na tarde desta segunda-feira (27).
“Já tinha varejeira assentando no local do ferimento e ele não aguentava mais abanar. Fazia as necessidades no local mesmo, porque não aguentava se movimentar. Ele tomou urina e também jogou no ferimento para não infeccionar”, disse o pedreiro Márcio Giovani Lima.
Silva deixou a casa da família no sábado (25) dizendo que iria pescar e não retornou. No domingo (26), a mulher e a irmã registraram um boletim de ocorrência sobre o desaparecimento. Os amigos iniciaram as buscas pela margem do Rio Pardo.
Lima disse que o grupo encontrou o carro do pedreiro abandonado próximo a um clube de campo, inclusive com as chaves dentro. Nesta segunda-feira, os amigos usaram um barco para continuar as buscas pelo rio e, no fim da tarde, conseguiram localizar Silva.
“Fomos descendo devagar e escutamos três gritos pedindo socorro. Encostamos a canoa e fomos até lá, e o encontramos caído na beirada de um lago, muito debilitado e não podendo andar, porque estava com a perna quebrada. Não tinha como ele movimentar”, afirmou.
Segundo o pedreiro Sidnei Valentim, que também auxiliou nas buscas, Silva contou que o caçador esteve no local, mas ao perceber que ele estava gravemente ferido, desarmou a armadilha e fugiu. Esse homem não havia sido identificado até esta terça-feira (28).
“A pessoa que fez a armadilha chegou a tentar socorrer ele, mas como o estado de saúde era muito debilitado para se locomover, o cara fez uma meia bengala para ele tentar sair. Só que ele não conseguiu, o cara arrancou a armadilha e deixou ele sozinho”, detalhou.
As buscas ocorreram em uma área de brejo entre as pontes sobre o que Rio Pardo em direção a Franca (SP) e Jardinópolis (SP), a cerca de dois quilômetros do local onde um jacaré também foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros com um arpão preso ao corpo. O animal não resistiu.
“Na hora que a gente achou, não tinha vara de anzol, não tinha rede, não tinha nada. Ele estava sem nada. Ele foi para andar e acabou se deparando com essa armadilha, quebrou a perna dele e não conseguiu ir embora”, disse o mecânico Joaquim José dos Santos.
Irmã do pedreiro que estava desaparecido, a vendedora Maria da Silva Galdino afirmou que Silva segue internado no HC-UE em Ribeirão Preto. O estado de saúde dele é considerado estável.
“Desde o que aconteceu, não consegui comer nada. Meu corpo ainda está em choque. Não consegui dormir, não consegui comer. É um desespero total, não só para mim, mas para a família inteira, os amigos. Todo mundo ficou desesperado”, desabafou.
Armadilha
O tenente da Polícia Ambiental Rodrigo Antônio dos Santos explicou que o pedreiro foi atingido por uma armadilha conhecida por “canhãozinho”: a munição calibre 12 é fixada ao dispositivo, que possui uma corda esticada. Quando o animal passa pela linha, acaba tingido pela bala.
“Não precisa ficar presencialmente, então facilita, não tem o risco de ser pego. Eles só voltam para recolher o animal abatido. Por mais que a gente já evoluiu em alguns sentidos, ainda há essa prática de caça, que é não só legalmente reprovável, como socialmente reprovável”, afirmou.
Ainda de acordo com Santos, essas armadilhas são deixadas em trilhas, sempre camufladas com galhos e folhas, com o objetivo de capturar animais nativos silvestres, como capivaras e pacas, e são apreendidas com frequência pela Polícia Ambiental.
“No caso desse cidadão atingido, ele foi realizar pesca em um lugar ermo e sozinho, o que a gente não aconselha, e veio a ser atingido, ficando de sábado a segunda-feira impossibilitado de se locomover. Teve um desfecho bem próximo do trágico”, disse.
Fonte: G1
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