38% dos profissionais de saúde têm sobrecarga mental na pandemia
Dificuldades para dormir, ansiedade e estresse são sintomas mais comuns encontrados em monitoramento realizado com 500 pessoas de todo o país.
Uma pesquisa realizada pela USP de Ribeirão Preto (SP) com pessoas de todo o país aponta que 38% dos profissionais de saúde na linha de frente do combate ao novo coronavírus estão com sobrecarga mental.
O percentual se refere a quem tem sintomas moderados ou graves, como dificuldade para dormir, relatada por 25% dos entrevistados, além de ansiedade e estresse pós-traumático, que correspondem, cada um, a 10% dos problemas mais comuns.
Entre os profissionais da saúde, os enfermeiros e técnicos de enfermagem são os mais afetados: 41% deles demonstraram estar sobrecarregados com a rotina de atendimentos da Covid-19.
“Já são indicadores que causam preocupação. A chance realmente de essa pessoa estar na condição de estafa, de sofrimento, de prejuízo é muito grande. São pessoas que estão realmente precisando de uma atenção, de um cuidado”, alerta Flávia de Lima Osório, professora da Faculdade de Medicina (FMRP), responsável pelo estudo.
Flávia alerta que a sobrecarga mental está diretamente associada ao desempenho desses profissionais e à capacidade de atendimento nos hospitais, já afetados pela alta demanda de pacientes na pandemia.
“A presença desses indicadores tem um prejuízo para o próprio profissional que vai ter a saúde comprometida, a saúde do familiar por consequência, mas também para todo o sistema de saúde. Um profissional doente tem mais chance de cometer algum erro na execução do trabalho e também maior é a chance de ser afastado por problemas de saúde, desfalcando as equipes.”
Com as férias canceladas e cinco plantões de 12 horas por mês, além das 30 semanais trabalhadas no ambulatório do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, a enfermeira Ângela Pimentel não esconde o cansaço e os efeitos dessa rotina.
“A gente tem a tensão de estar exposto, de levar esse vírus para a nossa família e também a tensão psicológica”, diz.
O estudo
As conclusões fazem parte de um estudo chamado “MENTALvid – Saúde Mental e Sobrecarga Emocional de Profissionais de Saúde do Brasil envolvidos no atendimento a pacientes portadores de Covid-19: indicadores e fatores associados”, que por três meses monitora em torno de 500 pessoas em todo o país.
Segundo Flávia, a ideia da pesquisa partiu de estudos similares realizados na China no início da pandemia, e que demonstraram alta em problemas como depressão, ansiedade e burnout principalmente entre os que estão em contato com os pacientes contaminados pelo novo coronavírus.
“Nesse momento o que tem sido mostrado é que os indicadores ficam mais elevados, então a necessidade de se conhecer essa realidade e de se criar medidas que possam prevenir, como tratar de uma forma mais específica essa população”, diz.
De acordo com a pesquisadora, os questionários respondidos pelos participantes do estudo a cada 15 dias ajudam a entender a progressão dos sintomas e a estabelecer estratégias de prevenção.
“Por meio desse feedback eles poderão tomar ciência da sua condição. Muitos profissionais já estão até acostumados com essa condição e às vezes esse estado de sofrimento acaba passando despercebido, visto como uma condição normal, que na verdade não é”, diz.
Momentos de descanso e desconexão do trabalho e da pandemia, além de se manter atividades físicas e religiosas, podem ajudar a combater o esgotamento mental, segundo ela.
“É importante que o profissional não se isole, que procure contato, mesmo que à distância, com seus amigos, familiares, que ele troque experiências com colegas de trabalho. É importante também, dentro do possível, que ele crie uma rotina de autocuidado, de exercícios adaptados dentro de casa. É importante filtrar e reduzir as informações a que esse profissional vai ter contato, evitar ficar muito tempo na internet procurando indicadores”, exemplifica.
Fonte: G1
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